Sidney Chalhoub

Sidney Chalhoub
Sidney Chalhoub
Nascimento 1957 (67 anos)
Rio de Janeiro
Cidadania Brasil
Alma mater
Ocupação historiador, professor universitário
Prêmios
Empregador(a) Universidade Estadual de Campinas, Universidade Harvard
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Sidney Chalhoub (Rio de Janeiro, 1957) é um historiador e professor universitário brasileiro.[1]

Biografia

Nasceu no Rio de Janeiro, em 1957.[2] Pertencia a uma família de classe média. Conta que durante a sua educação básica nunca pensou em ser historiador, sempre quis ser professor, ficando entre uma gradução em licenciatura em História ou em Matemática. Optou por cursar História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, todavia, a repressão militar tornava o ensino de péssima qualidade.[3]

"A gente tinha aula às vezes com camburão parado na porta da frente da faculdade... Com o tempo, eu fui entendendo que os professores que davam aula para nós, mesmo alguns que se esforçavam e tal, estavam ali em parte porque tinham passado por um crivo político também. Vários professores que a gente escutava  falar que tinham uma contribuição importante do ponto de vista de pesquisa estavam exilados. E aí eu tive minha  primeira  crise, que não foi política".[3]

Por conta dessa situação, depois de um ano e meio de graduação, entrou, e passou, em uma seleção para estudar na Lawrence University, Estados Unidos, onde formaria-se em 1979.[4] Os anos da UFRJ, todavia, lhe renderam amizades e colegas para toda a vida, como Martha Abreu, Gladys Ribeiro, João Luís Fragoso e José Antônio Dabdab Trabulsi, que eram de sua turma.[3]

No retorno ao Brasil, encontrou dificuldades para a validação de seu diploma, já que, por ter realizado o curso nos Estados Unidos da América, não cursou matérias básicas para historiadores brasileiros, como a História do Brasil. Para sanar essas deficiências buscou cursar essas disciplinas com os professores brasilieros que estavam exilados / perseguidos pela Ditadura Brasileira, como Maria Yedda Linhares, Eulália Lobo e Manoel Maurício de Albuquerque. Com a ajuda de Yedda Linhares, que o apadrinhou dentro do meio acadêmico, conseguiu a validação de seu diploma.[3]

Podendo agora ingressar no ensino superior brasileiro, realizou seu mestrado na Universidade Federal Fluminense (UFF), no ano de 1984, intitulado "Trabalho, Lar e Botequim: vida cotidiana e controle social da classe trabalhadora no Rio de Janeiro da Belle Époque", onde o pesquisador percorre todos os meandros da classe trabalhadora carioca, do trabalho até a vida social dos trabalhadores.[5][6] Após a conclusão do mestrado, depois de um ano como docente na Universidade Federal de Ouro Preto,[3] Chalhoub encaminhou seus estudos para a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), onde realizou seu doutorado.[7]

No ano de 1989, recebeu o título de doutor após defender a tese "Visões da liberdade : uma historia das ultimas décadas da escravidão na corte", onde são analisado diversos processos criminais e de obtenção de alforria em que negros envolviam-se na luta pelo direito a liberdade em meio ao contexto escravagista brasileiro.[8][9] Tanto o mestrado, quanto o doutorado de Sidney foram orientados por Robert Wayne Andrew Slenes, importante historiador estadunidense que estuda a questão escravagista, o Brasil e o continente africano.[10]

Em 1992, realizou seu primeiro pós-doutorado na Universidade de Maryland.[11] Oito anos mais tarde, realizou mais um pós-doutoramento, desta vez na Universidade de Michigan.[12] Seu mais recente pós-doutoramento ocorreu em 2011, na Universidade Stanford, também nos Estados Unidos.[13]

Atuação

No ano de 1995, foi aprovado na livre docência da UNICAMP e em 2003 foi efetivado professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (IFCH).[14] Foi Diretor Associado do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp e do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL).[15] Atuou como professor da universidade até 2015, quando tornou-se professor da Universidade Harvard.[13] Atualmente, seu vínculo com o instituto e a Unicamp é de pesquisador colaborador.[16]

Como professor visitante, lecionou na Universidade de Michigan e na Universidade de Chicago.[17] Também atua como pesquisador colaborador da Universidade Humboldt de Berlim.[11]

Desde 2015, é professor dos departamentos de História e African and African American Studies da Universidade Harvard, além de ser associado ao departamento de Romance Languages and Literature na mesma instituição.[13][18]

Seus estudos sobre escravidão, cotidiano e trabalho têm importância reconhecida, motivos pelos quais é considerado um dos principais historiadores brasileiros.[19][20] Além desses temas, Chalhoub é um grande estudioso da obra do escrito brasileiro, Machado de Assis fazendo importantes contribuições para o estudo do autor.[21][22]

Posicionamento político

Sidney Chalhoub e a presidenta Dilma Rousseff.

No ano de 2014, apoiou a candidatura de Dilma Rousseff (PT) nas eleições presidenciais.[23][24][25] Durante o processo de impeachment de Dilma, Chalhoub posicionou-se de maneira contrária ao afastamento da presidente Dilma.[26][27]

No ano de 2020, Chalhoub em meio a pandemia de COVID-19 no Brasil e ao redor do globo, ganhou uma notoriedade em diversos meios de comunicação para comentar sobre a pandemia de uma perspectiva histórica, fazendo o diálogo do passado com o presente.[28][29][30] No âmbito da divulgação científica, participou de uma transmissão ao vivo com o biólogo e divulgador científico Atila Iamarino e com o professor universitário e político Jean Wyllys.[31][32][33]

Homenagens

Em 1997, recebeu o prêmio Jabuti, um dos principais prêmios do gênero literário no Brasil, na categoria Ensaio pelo livro Cidade febril: cortiços e epidemias na Corte Imperial.[34]

Em 1999, recebeu uma menção honrosa no Prêmio Casa Grande & Senzala, concedido pela Fundação Joaquim Nabuco.[35]

No ano de 2012, seu livro Força da Escravidão foi vencedor, do Prêmio Literário da Academia Brasileira de Letras na categoria História e Ciências Sociais.[36]

Obra

Publicadas

  • A Força da Escravidão: ilegalidade e costume no Brasil oitocentista. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.[37]
  • Machado de Assis, historiador. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.[38]
  • Artes e ofícios de curar no Brasil: capítulos de história social: Editora da Unicamp, 2003.[39]
  • Cidade febril: cortiços e epidemias na Corte Imperial. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.[40]
  • Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte . São Paulo: Companhia das Letras, 1990.[41]
  • Trabalho, Lar e Botequim: o cotidiano de trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Époque. Campinas: Editora da Unicamp, 1986.[42]

Organizadas

  • Pensadores negros? pensadoras negras: Brasil, séculos XIX e XX. Belo Horizonte: Fino Traço, 2020. Conjuntamente a Ana Flávia Magalhães Pinto.
  • Escravidão e cultura afro-brasileira. Temas e problemas em torno da obra de Robert Slenes. Campinas: Editora da Unicamp, 2016. Conjuntamente a Martha Abreu e Jonis Freire.
  • Trabalhadores na cidade: cotidiano e cultura no Rio de Janeiro e em São Paulo, séculos XIX e XX. Campinas: Editora da Unicamp, 2009. Conjuntamente a Maria Clementina Pereira da Cunha e Jefferson Cano.
  • História em cousas miúdas: capítulos de história social da crônica no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 2005. Conjuntamente a Leonardo Affonso de Miranda Pereira e Margarida de Souza Neves.

Referências

  1. Fávaro, Tatiana (18 de fevereiro de 2013). «Sidney Chalhoub estuda história da escravidão no Brasil». Globo. Consultado em 20 de abril de 2020 
  2. «Sidney Chalhoub - Grupo Companhia das Letras». Companhia das Letras. Consultado em 15 de março de 2021 
  3. a b c d e Habib, Paula Arantes Botelho Briglia; Lima, Silvio Cezar de Souza (8 de julho de 2021). «Entrevista com Professor Sidney Chalhoub (Harvard University)». Revista Maracanan (27): 21–43. ISSN 2359-0092. doi:10.12957/revmar.2021.60953. Consultado em 21 de junho de 2024 
  4. Fávaro, Tatiana (18 de fevereiro de 2013). «Sidney Chalhoub estuda história da escravidão no Brasil». Globo Universidade. Consultado em 15 de março de 2021 
  5. Ferraz, Mariana (30 de julho de 2018). «Desvendando o cotidiano da classe trabalhadora do Rio de Janeiro da "belle époque"». Blog da Editora da Unicamp. Consultado em 15 de março de 2021 
  6. Junior, Atílio Bergamini (29 de novembro de 2013). «Entrevista com Sidney Chalhoub». Organon (55). ISSN 2238-8915. doi:10.22456/2238-8915.43867. Consultado em 15 de março de 2021 
  7. Chalhoub, Sidney (1989). «Visões da liberdade : uma historia das ultimas decadas da escravidão na corte». UNICAMP. IFCH - Tese e Dissertação. Consultado em 15 de março de 2021 
  8. Chalhoub, Sidney (1990). Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. [S.l.]: Companhia das Letras 
  9. Monteiro, Marília Pessoa (1993). «CHALHOUB, SIDNEY - VISÕES DA LIBERDADE, UMA HISTÓRIA DAS ÚLTIMAS DÉCADAS DA ESCRAVIDÃO NA CORTE. São Paulo, Cia. das Letras, 1990.». CLIO: Revista de Pesquisa Histórica (1). ISSN 2525-5649. Consultado em 15 de março de 2021 
  10. «Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - Robert Wayne Andrew Slenes». Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. Consultado em 15 de março de 2021 
  11. a b «CECULT - Sidney Chalhoub». Centro de Pesquisa em História Social da Cultura (CECULT). Universidade Estadual de Campinas. Consultado em 15 de março de 2021 
  12. «Sidney Chalhoub - Biblioteca Virtual da FAPESP». Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Consultado em 15 de março de 2021 
  13. a b c «Sidney Chalhoub». Harvard (em inglês). Consultado em 15 de março de 2021 
  14. «Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - Sidney Chalhoub». Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. Consultado em 15 de março de 2021 
  15. «Currículo do Sistema de Currículos Lattes (Sidney Chalhoub)». Lattes. Consultado em 10 de novembro de 2018 
  16. Sombini, Eduardo (25 de abril de 2020). «Politização de epidemias sempre leva a tragédias, avalia historiador». Folha de S.Paulo. Consultado em 15 de março de 2021 
  17. Fellet, João. «Pandemia desmascara 'arrogância da ignorância' de governantes, diz historiador». BBC News Brasil. Consultado em 15 de março de 2021 
  18. «Sidney Chalhoub». Department of African and African American Studies (em inglês). Harvard. Consultado em 15 de março de 2021 
  19. Engeli, Magali Gouvea. (1996). Cortiços, febre amarela e vacinophobia: uma história na encruzilhada de muitas histórias. Niterói: Revista O Tempo, UFF, v. 1, n. 2, 1996, p.188, acesso em 25 de maio de 2010
  20. «Revista "História Social" volta a sair - Cultura». Estadão. 25 de outubro de 2003. Consultado em 15 de março de 2021 
  21. Lima, Marcos (9 de março de 2020). «As várias óticas sobre Machado de Assis e a pluralidade de sua obra». Gazeta do Povo. Consultado em 15 de março de 2021 
  22. Lynder, Larissa (17 de junho de 2020). «"As pessoas precisam estar prontas para Machado", diz tradutora | DW | 17.06.2020». Deutsche Welle. Consultado em 15 de março de 2021 
  23. Frô, Maria (26 de outubro de 2014). «Sidney Chalhoub: 'Enquanto Dilma tem história, Aécio só tem berço'». Revista Fórum. Consultado em 15 de março de 2021 
  24. Sidney Chalhoub: "Enquanto Dilma tem história, Aécio só tem berço", consultado em 15 de março de 2021 
  25. Chalhoub, Sidney (20 de outubro de 2014). «Sidney Chalhoub: A "velha corrupção" e os jovens». Vermelho. Consultado em 15 de março de 2021 
  26. Benevuti, Patrícia (26 de agosto de 2016). «Em livro, historiadores repudiam impeachment de Dilma e alertam para riscos à democracia». Opera Mundi. UOL. Consultado em 15 de março de 2021 
  27. Fellet, João (12 de maio de 2016). «Saída da presidente gera 'impressão de instabilidade', opina brasilianista». BBC News Brasil. Consultado em 15 de março de 2021 
  28. «Um ano de coronavírus? O que se sabe sobre a data do 1º caso e como o 17 de novembro entrou na lista de marcos da pandemia». G1. Bem estar. 17 de novembro de 2020. Consultado em 15 de março de 2021 
  29. Historiador de Harvard avalia as pandemias que assolaram o mundo - GloboNews - Vídeos - Catálogo de Vídeos, consultado em 15 de março de 2021 
  30. Torres, Bolívar (17 de janeiro de 2021). «Livro de 1851 sobre combate à febre amarela traz lições para tempos de Covid-19». O Globo. Consultado em 15 de março de 2021 
  31. Ferreira, Yuri (29 de abril de 2020). «Atila Iamarino diz que imunidade de mais pobres será explorada com flexibilização de quarentena». Hypeness (em inglês). Consultado em 15 de março de 2021 
  32. Live, Caros amigos #9 com participação de Sidney Chalhoub, consultado em 15 de março de 2021 
  33. Wyllys, Jean (1 de outubro de 2020). «A cosa Bolsonaro». Jornal Expresso. Consultado em 15 de março de 2021 
  34. Câmara Brasileira do Livro (1997). Edições Anteriores - Prêmio 1997, acesso em 25 de maio de 2010
  35. «Programa Nacional de Apoio à Pesquisa» (PDF). Biblioteca Nacional do Brasil. 2006. Consultado em 15 de março de 2021 
  36. «ABL comemora 116 anos e entrega os Prêmios Literários para obras publicadas em 2012». Academia Brasileira de Letras. 2 de julho de 2013. Consultado em 18 de novembro de 2015 
  37. Chalhoub, Sidney (2012). «A força da escravidão: Ilegalidade e costume no Brasil oitocentista» (PDF). Consultado em 15 de março de 2021 
  38. Chalhoub, Sidney (2003). Machado de Assis, historiador. [S.l.]: Companhia das Letras 
  39. Chalhoub, Sidney (2003). Artes e ofícios de curar no Brasil: capítulos de história social. [S.l.]: Editora UNICAMP 
  40. Chalhoub, Sidney (2017). Cidade febril: cortiços e epidemias na corte imperial. [S.l.]: Companhia das Letras 
  41. Chalhoub, Sidney (1990). Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. [S.l.]: Companhia das Letras 
  42. Chalhoub, Sidney (2001). Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da belle époque. [S.l.]: Editora da Unicamp 
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