Matemática da Grécia Antiga

A Musa Geometria, no Museu do Louvre

A matemática grega clássica ou matemática da Grécia Antiga é a matemática escrita em grego dentre ~600 a.C. (época em que viveu Tales de Mileto) até o fechamento da Academia de Platão em 529 d.C.[1]

Egípcios, babilônicos e chineses, muito antes do século VI a.C., já eram já capazes de efetuar cálculos e medidas de ordem prática com grande precisão. Foram os gregos, no entanto, que introduziram o método axiomático: as rigorosas provas dedutivas e o encadeamento sistemático de teoremas demonstrativos que tornaram a Matemática uma ciência.[2]

A palavra "matemática" (μαθηματική), que é de origem grega,[3] englobava o que hoje se chama de aritmética, geometria, astronomia e mecânica.[4] Mas os pitagóricos a dividiam em: aritmética, geometria, astronomia, e música. Na concepção de Aristóteles, apenas a aritmética e a geometria, as duas áreas teóricas que mais atraíram os gregos antigos, eram consideradas ciências puramente matemáticas.[5][Nota 1]

Introdução

O conceito de Matemática Grega Antiga cobre matemáticos helenísticos que viveram no período entre o século VI a.C. e o século V d.C.

A matemática como uma ciência nasceu na Grécia Antiga. Na região que abriga a atual Grécia, a matemática era usada tanto para as necessidades diárias (contagens e medições), como também para rituais mágicos, cujo objetivo era descobrir os desejos dos deuses (i.e. para os campos da astrologia e numerologia). Mas os gregos também abordaram a matéria de outra maneira: eles postularam "Os números governam o mundo", ou, como expressado, o mesmo pensamento através de Galileu dois milênios depois:

O livro da natureza está escrito na linguagem da matemática

Característica dessa fase era que os gregos verificavam a validade de suas teses nas áreas que abordavam: astronomia, óptica, música, geometria, e mais tarde – a mecânica, por meio de modelos matemáticos, o que lhes conferia poder de fazer previsões. Ao mesmo tempo, os gregos criaram a metodologia matemática e completaram sua transformação de um grupo de algoritmos ou receitas a um corpo coerente de conhecimento. A base neste sistema, pela primeira vez tornou-se o método dedutivo, mostrando como apoiando-se sobre verdades bem conhecidas (axiomas), por meio do correto uso lógica garante-se a verdade dos novos resultados, as conclusões (teoremas).

Fontes do conhecimento sobre a matemática grega antiga

A maioria dos antigos escritos sobre matemática não chegaram aos nossos dias, e são conhecidos apenas por referências de autores posteriores e comentaristas, especialmente Papo de Alexandria (século III), Proclo (século V) e Simplício da Cilícia (século VI). Os originais também geralmente encontram-se perdidos, há algumas cópias em grego, mas também alguns são conhecidos apenas por traduções para outros idiomas, tais como o árabe. Mas dentre as obras que temos acesso em grego, estão algumas de Euclides, Aristóteles, Arquimedes, Apolônio e Diofanto.

O início da Matemática na Grécia antiga

Até o século VI a.C. a matemática grega não se destacava. Havia, como em outras civilizações da época, técnicas de contagem e medição.

No século VI a.C. inicia-se o "milagre grego": havia apenas duas escolas de pensamentos - A Escola Jônica (Tales de Mileto, Anaxímenes, e Anaximandro) e a Escola Pitagórica. As realizações dos matemáticos gregos são conhecidas principalmente por referências de autores e comentaristas posteriores, tais como Euclides, Platão e Aristóteles.

Tales de Mileto

Tales de Mileto era um rico comerciante que estudou a matemática e a astronomia da Babilônia - provavelmente durante suas viagens.

Alguns resultados que Tales demonstrou foram:[6]

Esses resultados já conhecidos, porém Tales foi o primeiro a prová-los formalmente.

A Escola Pitagórica

Pitágoras, o fundador da escola - uma personalidade lendária, sobre a qual a credibilidade das informações não pode ser verificada. Aparentemente, ele, assim como Tales, viajou muito e também estudou com os sábios egípcios e babilônicos. Quando retornou, por volta de 530 a.C., à Magna Grécia, ele fundou uma ordem espiritual secreta. Foi ele que propôs "Os números governam o mundo".

No começo do século V a.C., os pitagóricos foram expulsos do que é hoje o sul da península Itálica e a Sicília, e a sociedade deixou de existir, mas a popularidade de seus ensinamentos continuou a crescer. Escolas pitagóricos surgiram em Atenas, nas ilhas e nas colônias gregas, e seus conhecimentos matemáticos, rigorosamente protegidos de forasteiros, tornaram-se propriedades da escola.

Muitas realizações atribuídas a Pitágoras provavelmente foram realizadas por seus alunos.

Século V a.C. – Zenão e Demócrito

Zenão de Eleia é hoje conhecido pelos paradoxos que enunciou. No final do século V a.C. viveu outro importante pensador - Demócrito. Ele é conhecido não apenas pela criação do conceito de átomos: Arquimedes escreveu que Demócrito encontrou fórmulas para o volume da pirâmide e do cone, mas não providenciou evidências para suas fórmulas. Provavelmente Arquimedes requeria prova por exaustão, o que não existia então.

Século IV a.C. – Platão e Eudoxo

As dificuldades encontradas pelos pitagóricos ligadas à existência dos números incomensuráveis foram superadas pela teoria das proporções de Eudoxo de Cnido, que foi um modelo de rigor matemático. Assim, superou a doutrina dos pitagóricos e sua mística dos números, dando lugar à concepção platônica da matemática e a doutrina do mundo das ideias.

Século III a.C. – Euclides, Arquimedes e Apolônio

No início do século III a. C. foi publicado em Alexandria Os Elementos de Euclides. Fundada no ano 331 a. C., Alexandria rapidamente converteu-se no centro da cultura helênica. Ali trabalharam quase todos que tiverem nome e lugar nas ciências matemáticas gregas, desde Euclides a Diofanto de Alexandria, Papo e Proclo. A importância dos Elementos foi enorme. Durante muito tempo fixaram o ideal do conhecimento verdadeiro e deram estrutura à matemática por meio do método axiomático. O método euclidiano compreende, em primeiro lugar, uma teoria geral das magnitudes fundada sobre axiomas como, por exemplo:

Duas magnitudes iguais a uma terceira são iguais entre si.

Muitos argumentam que o maior matemático da Antiguidade, se não de todos os tempos, foi Arquimedes (287 a.C. - 212 a.C.) de Siracusa.

Apolônio de Perga estudou as seções cônicas.

O declínio

Ao final do século III a.C, a "era de ouro" da matemática grega aproximava-se do fim. Devido a conquistas territoriais e tensões religiosas, o ambiente escolar helênico foi profundamente abalado e modificado, entre muitos outros fatores.[7] Novas ideias tornaram-se escassas. Em 146 a.C. Roma anexou a Grécia ao seu Império,[6] e no ano de 31 a.C.,o Egito também, e com isso Alexandria, onde há poucos anos havia ocorrido um incêndio que tinha destruído em torno de 500 mil textos, mas que, apesar disso, por muito tempo ainda continuaria a ser a capital cultural do mundo.[8]

Apesar disso, ainda ocorreram algumas realizações:

Note-se as atividades de Papo de Alexandria (século III) como comentador. Só por causa dela que algumas das informações chegou-nos sobre antigos estudiosos e seus escritos.

Notas

  1. Para Kepler e Newton, respectivamente, a astronomia e a mecânica eram tão "puras" quanto à geometria. Na época de Kepler, a astronomia era considerada um ramo da matemática (vide John L. Heilbron - Copernican Cosmology in Catholic Countries around 1700). Já Newton, considerava a geometria um ramo da mecânica (vide David E. Rowe - Euclidean Geometry and Physical Space).

Referências

  1. Howard Eves, An Introduction to the History of Mathematics, pps. 49—165
  2. Israel Kleiner, Excursions in the History of Mathematics, pps. 154—156
  3. Marek Šulista - Mathematics and Mathematicians
  4. ISHK's Human Journey project - Mathematics in the Human Journey
  5. Chris Weinkopf - Greek Mathematics
  6. a b Ken W. Smith - The Greek Age of Mathematics
  7. a b Karen E. Donnelly - Entrance into and Emergence from The Dark Ages: The Decline and Revival of Mathematics
  8. a b Hygino H. Domingues - Papus: O Epílogo da Geometria Grega
  9. Bronwyn Rideout - Pappus Reborn: Pappus of Alexandria and the Changing Face of Analysis and Synthesis in the Late Antiquity, pg. 41