Mangarito

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Definições

O mangarito é encontrado classificado majoritariamente como Xanthosoma riedelianum e Xanthosoma mafaffa. É uma hortaliça não convencional nativa do sudeste brasileiro com ciclo de vida longo, caule flexível principal subterrâneo, de onde partem brotos laterais e folhas eretas (GONÇALVES, 2011). O caule é amarelado devido a presença de carotenoides, pigmentos naturais que fazem parte da rota fotossintética e atuam na captação do excesso de energia luminosa, junto com as clorofilas (UENOJO, 2007) A planta já foi muito usada no passado, mas, como a maioria das Plantas Alimentícias Não Convencionais, teve muito do seu conhecimento perdido e as informações e estudos sobre são limitados.

O mangarito possui características nutricionais parecidas com outros tubérculos, como a batata inglesa, e é fonte de compostos bioativos, como vitaminas, minerais e antioxidantes, que podem ter efeitos benéficos para a saúde humana. Esses resultados podem ser utilizados no desenvolvimento de alimentos funcionais e na promoção de uma alimentação mais nutritiva (YOSHIME, 2007). Além disso, a produção dessa espécie pode ser incorporada como alternativa para produtores de raízes tuberosas, com potencial de estimular a base alimentar de regiões em desenvolvimento (JORDAN, 1979).

Aspectos nutricionais

A espécie recebe um destaque nutricional em relação a ser fonte de energia, visto que 95,19% do peso de seu rizoma é constituído de amido (ÁVILA, 2012). Segundo YOSHIME, 2007 e JORDAN, 1979 a composição centesimal de nutrientes é de 9 g de calorias; 70,5 g de água; 2,5 g de proteínas; 27 g de carboidratos; 1,43 g de lipídeos; 1,23 g de cinzas. Ela apresentou teores elevados de cálcio (333 mg); fósforo (47 mg); ferro (1,81 mg); potássio (1,3 g) e zinco (5,2 mg). Além disso, a planta é rica em fibras alimentares, que não sofrem perdas significativas após o seu cozimento, cuja representação é de 3,50% no alimento cru e 3,62% no cozido. Em relação às vitaminas, há 7 mg de vitamina C e 7,2 mg de vitamina E, mas o seu cozimento ocasionou em perdas de 14,28% dessa vitamina. (YOSHIME, 2007).

Consumo

A planta pode ser consumida de diversas formas, sendo seu rizoma e folhas as partes mais comuns de serem utilizadas. São muito apreciadas pela população rural e sazonalmente no comércio local. Apesar de ainda não ser tão conhecido nacionalmente, o mangarito tem um potencial de crescimento no mercado, com o aumento da produção, progressos tecnológicos e interesse por plantas não convencionais (PANCs). Embora o consumo dos rizomas de deem, sobretudo, cozido, ao molho e acompanhado de carnes, há a possibilidade de comer suas folhas, que se assemelham à verdura espinafre (COSTA, 2008).

Potencial antimicrobiano

O estudo conduzido pelos cientistas DZOTAM, et al. (2016) a partir da coleta e análise das folhas de Xanthosoma mafaffa, aponta o potencial antimicrobiano da espécie contra bactérias multirresistentes, principalmente bactérias gram-negativas. A partir do método de microdiluição, o estudo determinou as concentrações inibitórias mínimas e as concentrações bactericidas mínimas do extrato das folhas, além da combinação do extrato com antibióticos, para identificar o potencial de associação de ambos.

O teste fitoquímico realizado no estudo a partir do extrato, demonstrou que a presença de polifenóis, triterpenos e esteróides, substâncias que podem contribuir para a atividade antimicrobiana da planta. (DZOTAM, 2016)

Ademais, a Xanthosoma sagittifolium também é alvo de estudo no que se refere ao seu potencial em reduzir parasitas nematóides. A biofumigação com folhas de Xanthosoma sagittifolium apresentou eficácia na supressão de Meloidogyne enterolobii em raízes de tomateiro, além de não ter sido identificado como hospedeiro de M. enterolobii, o que sugere que essa planta pode ser utilizada em rotação de culturas para o manejo de nematoides. Esse resultado indica o potencial da Xanthosoma sagittifolium como uma estratégia de controle de nematoides em sistemas agrícolas. O estudo aponta a presença de substâncias tóxicas na composição de espécies que pertencem à família Araceae, como a Xanthosoma sagittifolium e esses compostos podem ter propriedades nematicidas, contribuindo para a eficácia da biofumigação. (GOMES et al., 2020)

Mangarito e a Taioba

Além de encontrar estudos sobre as espécies Xanthosoma riedelianum e Xanthosoma mafaffa (espécies do mangarito), encontramos alguns artigos que focam em quantificar e extrair os compostos nutricionais e compreender os benefícios fisiológicos do consumo da Taioba (Xanthosoma sagittifolium), podendo citar “Multivariate analysis for the quantitative characterization of bioactive compounds in “Taioba” (Xanthosoma sagittifolium) from Brazil” (2022), de Clícia Maria de Jesus Benevides e contribuintes e “Taioba (Xanthosoma sagittifolium) Leaves: Nutrient Composition and Physiological Effects on Healthy Rats”,(2013) de Elisa de Almeida Jackix e contribuintes.

De modo geral, compreende-se que alimentos de origem vegetal (convencionais ou não) possuem compostos bioativos com capacidades antioxidantes, que estão associados à prevenção de diversas doenças. Entre esses compostos, os autores buscaram estudar sobre os compostos fenólicos, e chegaram aos resultados que as variáveis de solvente para a extração, parte da planta utilizada e tratamento térmico são determinantes da concentração das substâncias, sendo que os conteúdos (mg/100 g) de compostos fenólicos totais foram maiores nas folhas (75.44 ± 1.69) (BENEVIDES, 2022).

Como já informado, devido a maior presença de produtos industrializados, cada vez mais reduz-se o consumo de verduras e vegetais e as PANCS não estão isentas a isso. Infelizmente, isso representa uma perda, tanto de características culturais como do ponto de vista econômico e nutricional. O consumo de PANCS é um elemento associado à manutenção do balanço entre crescimento populacional e produção agrícola, principalmente em regiões tropicais e subtropicais. A taioba, por exemplo, é produzida e serve de alimento em regiões com acesso e recursos limitados. Além disso, muitas dessas verduras e vegetais são fontes de compostos funcionais associados com a diminuição do risco de Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNTs) (BENEVIDES, 2022; GUPTA, 2005; HOUNSOME, 2008; JACKIX, 2013)

Referências

ÁVILA, R.; ASCHERI, D.P.R.; ASCHERI, J.L.R. Caracterização dos rizomas filhos e da fécula do mangarito (Xanthosoma mafaffa Schott) e elaboração de filmes biodegradáveis. Boletim do Centro de Pesquisa e Processamento de Alimentos, Curitiba, v. 30, n. 1, p. 35-52, 2021. DOI: 10.5380/cep.v30i1.28581.


BENEVIDES, C. M. J. et al.. Multivariate analysis for the quantitative characterization of bioactive compounds in “Taioba” (Xanthosoma sagittifolium) from Brazil. Journal of Food Measure and Characterization, s.l., v. 16, n. 3, p. 1901 - 1910, 2022. DOI: 10.1007/s11694-021-01265-2.


BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Hortaliças não-convencionais: (tradicionais). Brasília: MAPA/ ACS, 2010. 52 p. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/108985/1/Cartilha-Hortalicas-nao-convencionais.pdf. Acesso em: 5 junho 2023.


CAVALCANTI, T. F. et al.. Produtividade de cinco acessos de mangarito em Montes Claros-MG. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 33, n. 2, p. 272–275, 2015. DOI: 10.1590/S0102-053620150000200022.


COSTA, C. A. DA . et al.. Nutrição mineral do mangarito num Latossolo Vermelho Amarelo. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 26, n. 1, p. 102–106, 2008. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-05362008000100020


DZOTAM, J. K., et al.. Antibacterial and antibiotic-modifying activities of three food plants (Xanthosoma mafaffa Lam., Moringa oleifera (L.) Schott and Passiflora edulis Sims) against multidrug-resistant (MDR) Gram-negative bacteria. BMC complementary and alternative medicine, s.l., v. 16, n. 9, 2016. DOI: 10.1186/s12906-016-0990-7.

FERREIRA, A. P. S. et al.. Carboidratos e carotenoides totais em duas variedades de mangarito. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 49, n. 5, p. 403–406, 2014. DOI: 10.1590/S0100-204X2014000500010.


GOMES, V. A. et al.. Xanthosoma sagittifolium is resistant to Meloidogyne spp. And controls Meloidogyne enterolobii by soil biofumigation. Journal of Nematology, s.l., v. 52, n. 1, p. 1-12, 2020. DOI: 10.21307/jofnem-2020-107.


GONÇALVES, E.G.. The commonly cultivated species of Xanthosoma Schott (Araceae), including four new species. Aroideana, Miame, v. 34, p. 3-23, 2011. Disponível em: https://www.aroid.org/aroidl-archive/attachments/170124104701-1.pdf. Acesso em: 5 junho 2023.


GUPTA, S. et al.. Análise do teor de nutrientes e antinutrientes de vegetais folhosos subutilizados. LWT-Food Science and Technology, Georgia, v. 38, n. 4, pág. 339-345, 2005. DOI: https://doi.org/10.1016/j.lwt.2004.06.012.


HOUNSOME, N. et al.. Metabólitos vegetais e qualidade nutricional de hortaliças. Journal of Food Science, Chicago, v. 73, n. 4, pág. R48-R65, 2008. DOI: 10.1111/j.1750-3841.2008.00716.x.


JACKIX, E. A. et al.. Taioba (Xanthosoma sagittifolium) leaves: nutrient composition and physiological effects on healthy rats. Journal of Food Science, Chicago, v. 78, n. 12, p. H1929–H1934, 2013. DOI: 10.1111/1750-3841.12301.


MARTINS, M. M. M. et al.. Xanthosoma riedelianum starch for use in the food industry. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 55, p. e01765, 2020. DOI: 10.1590/S1678-3921.pab2020.v55.01765.

JORDAN, F. L... Preliminary work whit tanier (Xanthosoma spp.) in Puerto Rico. The Journal of Agriculture of the University of Puerto Rico, Porto Rico, v. 63, n. 4, p. 469-473, 1979. Disponível em: https://revistas.upr.edu/index.php/jaupr/article/view/10264/8596. Acesso em: 5 junho 2023.


UENOJO, M. et al.. Carotenóides: propriedades, aplicações e biotransformação para formação de compostos de aroma. Química Nova, São Paulo, v.30 p.616-622, 2007. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-40422007000300022.


YOSHIME, L. T. Caracterização nutricional do Mangarito (Xanthosoma mafaffa Schott). 2007. Dissertação (Mestrado em Bromatologia) - Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. DOI:10.11606/D.9.2017.tde-10112017-105442.